encerrado
13.11.2023 a 20.01.2024
Galeria Estação | R. Ferreira de Araújo, 625 - Pinheiros - 05428001 | São Paulo - Brasil | São Paulo - Brazil

INTRODUÇÃO

Dando continuidade à vocação da Galeria Estação de descobrir e mostrar novos talentos, apresentamos o artista Rafael Pereira, natural de São Paulo, morador em Caraguatatuba, estado de São Paulo.

Foram o colecionador Edmar Pinto Costa e a artista visual Germana Monte-Mór que primeiro viram e me apresentaram o trabalho de Rafael.

Percebi nele um talento natural que deveria ser incentivado e exibido.

Gosto de mostrar esses jovens e dar a eles a oportunidade para que possam se expressar.

No final de 2021 começamos a comprar obras do Rafael para nosso acervo com o objetivo de oferecer ao público a primeira exposição dele, que agora apresentamos, com curadoria do artista plástico e curador Tiago Sant’Ana.

Venham conferir.

 

Vilma Eid

curador

Rafael Pereira: Lapidar imagens
Tiago Sant’Ana

Uma mulher está sentada numa cadeira de madeira, com o olhar fixo para a frente, como quem encara o horizonte. Os cabelos são volumosos e estão elegantemente penteados para a parte de trás da cabeça. Suas duas mãos se encontram ao se encostarem no braço da cadeira. As vestes carregam tons de branco com detalhes serpenteados em rosa e verde, contrastando com um pedaço de parede logo atrás dela que carrega padrões geométricos em tons avermelhados terrosos. O muro serve como divisória para que, ainda mais ao fundo da imagem, vejamos uma paisagem com um céu densamente azul que se contém acima de um vibrante panorama de pequenos morros verdes e amarelados.

A imagem descrita é uma das telas compostas pelo artista paulistano Rafael Pereira. O esforço por realizar uma descrição minuciosa dessa pintura está diretamente proporcional à quantidade de atenção aos detalhes que o artista insere em seus trabalhos, compondo de maneira sofisticada uma visualidade que põe em tangência algumas das linguagens tradicionais da pintura: o retrato, a paisagem e a natureza-morta. No entanto, embora recorra a essas consagradas trilhas visuais da História da Arte, Pereira o faz de modo específico ao implementar de maneira intercambiada essas visualidades e as interpreta a partir de seu próprio repertório pictórico brasileiro, através de pinceladas vigorosas e um cromatismo que alterna vibração –presente em verdes e azuis – com cores mais sóbrias, principalmente no branco e no marrom.

Rafael Pereira nasceu em São Paulo, em 1986, e começou a pintar de maneira autodidata aos 18 anos, quando ganhou de presente de aniversário um conjunto de tintas e papéis. Contudo, é a partir dos 23 anos de idade que, em tempo integral, se dedica à pintura. Apesar de ter nascido na capital paulista, Pereira transitou em diversas cidades e geografias brasileiras, como as cidades de Novo Airão, no Amazonas, Ouro Preto e Teófilo Otoni, em Minas Gerais, Pontal do Paraná, no sul do país, até chegar em Caraguatatuba, no litoral paulistano, onde hoje vive e trabalha. Esse percurso por diversos lugares fez com que Pereira se constituísse como um observador dos trânsitos humanos e das mutações das paisagens, acumulando, ao longo da sua vida, memórias afetivas e artísticas que lhe possibilitaram possuir um complexo repertório visual, agora apresentado por meio de uma pintura marcada por uma vitalidade e uma elegância cromática.

Os retratos apresentados pelo artista, recorrentemente, possuem um binômio dentro/interno-fora/externo, na medida em que, embora ele esteja interessado em realizar composições em que rostos figurem em uma posição de centralidade, também o entorno da pessoa retratada tem uma preponderância para dar mais sentido visual e conceitual à obra. Talvez essa predileção tenha relação com o fato de o artista ensejar localizar os personagens dentro de um cenário ou mesmo de um ethos. O fundo da pintura, na linguagem de Pereira, não é apenas uma maneira de destacar a figura, e sim uma ação de revelar mais um dado semântico para a obra – já que em alguns momentos se descortinam, por exemplo, a textura do mar ou casarios históricos, paisagens geográficas que fazem parte do imaginário e do lugar afetivo do artista.

Pereira, ao realizar retratos e ao pintar paisagens que muitas vezes são reconhecidas como “cenários brasileiros”, vem na esteira de uma tradição retratista brasileira moderna. No entanto, o jovem artista paulistano cria uma cisão com essa mesma escola modernista: a de retratar o Outro, ocasionalmente, de maneira exotizante e estereotipada. Como as pinturas de Rafael têm como ponto de partida as suas memórias visuais bem como uma produção que pode ser analisada na chave do que hoje se chama de “arte afro-brasileira”, o artista tece os seus trabalhos a partir do campo do afeto, sendo suas figuras sensivelmente familiares ao seu próprio pertencimento sociorracial.

Outro dado biográfico fundamental para entendermos o conjunto da obra de Rafael Pereira é o fato de ele ter trabalhado, como uma das suas primeiras profissões, no exercício de lapidador de pedras preciosas – ofício aprendido em Minas Gerais, local que historicamente ficou marcado por toda a exploração das pedras preciosas e pela sua forte identidade ligada ao Barroco (presente em casarios e igrejas) e às identidades afro-brasileiras. Ao nos aproximarmos das obras apresentadas na primeira exposição do artista na Galeria Estação – que o artista dedica à sua mãe Maria do Carmo Alves Jardim e à memória do seu pai Dilson Pereira Ramalho – notamos que essa experiência com o fazer da lapidação reflete no esmero do gesto artístico, na medida em que ele se debruça na elaboração dos detalhes e minúcias, presentes especialmente em estamparias de roupa, fundos de paisagem ou na construção de espécies de ornamentos em volta ou em uma posição lateral às pessoas retratadas.

Isso nos leva a pensar que Rafael Pereira apresenta como exercício artístico não somente um fecho de luz do seu tempo, o que o constitui como um artista do contemporâneo capaz de refletir sobre sua própria realidade, mas também um lapidador de imagens que, ao seu modo, constitui arestas e bordas, regiões de luz e sombra, relevos mais brilhantes e mais foscos, agora, utilizando telas, tintas a óleo e pinceis, na construção de um universo próprio que, longe de se preocupar em revisitar cânones representacionais do moderno, nos põe a ver o afeto, a singeleza e a cor como pulsões de vida.


 

RELEASE

Primeira mostra individual de Rafael Pereira na Galeria Estação, Lapidar Imagens celebra a altivez da negritude e dialoga com a estética provocativa do retrato modernista


Com curadoria de Tiago Sant’ana, exposição reúne 20 óleos sobre tela e apresenta uma produção pictórica fortemente marcada pelas vivências do artista paulistano em diversas viagens ao redor do Brasil


Talento emergente, com uma produção de retratos personalíssimos que remetem ao figurativismo de caráter social da pintura modernista, Rafael Pereira é apresentado ao público paulistano por meio de um balanço condensado na exposição Rafael Pereira – Lapidar Imagens, que será aberta ao público em 13 de novembro.


 


Primeira individual do artista na Galeria Estação, com visitação até 20 de janeiro de 2024, a mostra tem curadoria de Tiago Sant’Ana e reúne 20 óleos sobre tela, majoritariamente retratos, mas também naturezas mortas e paisagens que remetem a personagens conhecidos pelo artista em lugares distintos, como Novo Airão, no Amazonas, Ouro Preto e Teófilo Otoni, em Minas Gerais, Pontal do Paraná, no sul do país, e Caraguatatuba, no litoral norte de São Paulo, onde atualmente reside.


 


“Morei em alguns lugares do Brasil e comecei a pintar em 2008. Em 2013, resolvi sair de São Paulo e fazer a minha primeira viagem, que intitulei na época de ‘viagem artística’. Peguei minha mala de tintas e parti para uma cidade ainda desconhecida por mim, Ouro Preto, em Minas Gerais. Sempre que viajei para morar em outras cidades fui também em busca da minha pintura. Sempre absorvi o jeito que as pessoas vivem, a cultura de cada lugar, suas cores, sua flora e fauna, elementos que fizeram com que eu pudesse construir este emaranhado de imagens e vivências para preencher o que chamo de memórias”, explica Pereira.



Para o curador da exposição, esse mosaico de espaços geográficos, capaz de desencadear afetos e percepções representados pelo artista, sobretudo se desdobra em traços caraterísticos da identidade autoral de Pereira, algo que, para Sant’Ana, fica evidente na generosidade com que ele retrata seus personagens.



“O trabalho do Rafael tem uma especificidade que é fazer do singelo, da cena cotidiana, algo poético que ao mesmo tempo tem elegância e sofisticação. Isso fica bem explícito, por exemplo, na maneira com que ele compõe as roupas dos personagens bem como na altivez das pessoas retratadas, dando um olhar dignificante a elas”, defende.



O título da mostra, Lapidar Imagens, faz alusão ao fato de o artista ter trabalhado como lapidador de pedras preciosas durante o período em que residiu em Teófilo Otoni. Para o curador, o ofício aprendido na cidade do nordeste de Minas Gerais também influenciou o gestual de Rafael Pereira. 


 


“A experiência com o fazer da lapidação se reflete no esmero do gesto artístico, na medida em que Rafael se debruça na elaboração de minúcias, presentes especialmente em estamparias de roupa, fundos de paisagens ou na construção de espécies de ornamentos em volta ou em uma posição lateral às pessoas retratadas”, defende.


 


Para o artista, as investigações e reflexões desenvolvidas ao longo de dez meses com o curador evidenciaram fatores que foram decisivos para a percepção de coesão autoral dos trabalhos que ele tem criado ao longo dos últimos 15 anos.   



“O fato de sempre retratar as pessoas de forma simples e digna é um dos fatores que formam a unidade nas obras que irão compor essa mostra. Outro ponto é a construção de ambientes e elementos que apresento nesse conjunto de trabalhos, todos ligados às minhas vivências e memórias afetivas. A paisagem rural que faz parte do meu cotidiano, os objetos pelos quais guardo boas memórias, como o violão, personagens que me remetem a pessoas conhecidas e até mesmo familiares. Tudo isso reforça a unidade que busco em minha pintura”, conclui Pereira, que dedica a exposição a sua mãe, Maria do Carmo Alves Jardim, e à memória do seu pai, Dilson Pereira Ramalho.



Para Vilma Eid, sócia-fundadora da Galeria Estação que teve contato com a obra de Pereira por meio da artista visual Germana Monte-Mór e do colecionador Edmar Pinto Costa, a decisão de representar o artista foi algo irrecusável.    



“Percebi em Rafael um talento natural que deveria ser incentivado e exibido. Sempre gostei de dar a oportunidade para que jovens como ele possam se expressar. No final de 2021, começamos a comprar seus trabalhos para nosso acervo com o objetivo de oferecer ao público a primeira exposição do Rafael, que agora apresentamos com curadoria do artista plástico e curador Tiago Sant’Ana”, contextualiza.


 


Sobre Rafael Pereira


Nascido em São Paulo capital, em 1986, mudou-se para Teófilo Otoni (MG) com a família ainda criança e foi lá que se especializou no trabalho com as pedras preciosas. De volta a São Paulo, aos 17 anos, Rafael se revezava entre o trabalho para pagar as contas e a prática da pintura e do desenho, atividades que foi desenvolvendo de maneira autodidata, experimentando com tinta a óleo, nanquim e giz pastel.



Aos 24 anos, decidiu se dedicar exclusivamente à profissão de artista, vendendo seu trabalho nas ruas das diversas cidades onde morou Brasil afora.  As vivências pessoais guiam a pesquisa de Rafael Pereira e formam o repertório imagético de sua obra. Sua ancestralidade de matriz africana dita muito do ritmo estético de seu trabalho, com suas simbologias e cores vivas. O processo de criação inicia-se justamente a partir do emprego das cores na tela, que aos poucos vão decodificando as figuras mentais e os sentimentos relacionados até se transformarem na composição.



Desde as primeiras produções de Rafael Pereira, então incentivadas pelo casal de colecionadores Claudete Guitar e Torquato Saboia Pessoa, até as mais recentes, pode-se identificar muito da sua própria história. A série de pinturas Catadores de Cana (2021), por exemplo, trata da realidade dos cortadores de cana, resgatando não apenas a profissão de seu pai, mas também o que provavelmente tenha causado sua morte. O retrato tem sido uma categoria bastante trabalhada pelo artista, por meio de representações de pessoas que passam por sua vida, e em seu ambiente familiar. Essas figuras, que geralmente olham profundamente quem as observam, povoam a imaginação do artista. Outra importante prática de sua pesquisa é a xilogravura. De forma autodidata e com a ajuda de outros artistas, Rafael utilizou inicialmente referências do modernismo brasileiro para investigar a fundo os processos da técnica, bem como seus materiais e ferramentas. Artistas como Cândido Portinari, Ismael Nery, Lasar Segall, Tarsila do Amaral, inspiram os cenários, traços e temas em suas obras.


 


Sobre a Galeria Estação


Com um acervo entre os pioneiros e mais importantes do país, a Galeria Estação, inaugurada no final de 2004 por Vilma Eid e Roberto Eid Philipp, consagrou-se por revelar e promover a produção de arte brasileira não-erudita. A sua atuação foi decisiva pela inclusão dessa linguagem no circuito artístico contemporâneo ao editar publicações e realizar exposições individuais e coletivas sob o olhar dos principais curadores e críticos do país. O elenco, que passou a ocupar espaço na mídia especializada, vem conquistando ainda a cena internacional ao participar, entre outras, das exposições Histoire de Voir, na Fondation Cartier pour l’Art Contemporain, na França, em 2012, e da Bienal Entre dois Mares – São Paulo | Valencia, na Espanha, em 2007. Emblemática desse desempenho internacional foi a mostra individual de Veio – Cícero Alves dos Santos, em Veneza, paralelamente à Bienal de Artes, em 2013.



No Brasil, além de individuais e de integrar coletivas prestigiadas, os artistas da galeria têm suas obras em acervos de importantes colecionadores e de instituições de grande prestígio e reconhecimento, como a Pinacoteca do Estado de São Paulo, o Museu de Arte de São Paulo, o Museu Afro Brasil (SP), o Pavilhão das Culturas Brasileiras (SP), o Instituto Itaú Cultural (SP), o SESC São Paulo, o MAM- Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e o MAR, na capital fluminense.


 


SERVIÇO


Rafael Pereira – Lapidar Imagens


Quando: de 13/11 a 20/1/2024


Onde: Galeria Estação


Endereço: Rua Ferreira Araújo, 625 - Pinheiros, São Paulo


Vernissage: 13/11 (segunda-feira), das 18h às 21h


 Horários de funcionamento da galeria: Segunda a sexta, das 11h às 19h; sábados, das 11h às 15h; não abre aos domingos


Tel: 11 3813-7253
Email: contato@galeriaestacao.com.br


Site: www.galeriaestacao.com.br/


Instagram: @galeriaestacao


 


 

CATÁLOGO